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Brenda Fucuta

É pedir demais ter tokens e biometrias digitais mais amigáveis?

Brenda Fucuta

09/06/2019 04h44

Foto: Marjan Grabowski/Unsplash

Se tem algo irritante no nosso modo de vida contemporâneo, é o sistema de segurança digital dos bancos. Os tokens, por exemplo; aqueles do tipo chaveiro, com cara de pager século XX, que você precisa carregar para todo lado – eu, por exemplo, vivo perdendo o da minha conta da empresa nas gavetas do escritório. Aquela transferência que era para durar 5 minutos se transforma em uma missão exasperante. Abro o site do banco, preencho ID e senha (que já não são fáceis) e, logo depois, aparece o pedido do número do token. E cadê o token, certo? Vou procurar o chaveiro, enquanto xingo minha memória e desorganização. Quando volto, com o troféu nas mãos, descubro que a sessão expirou.

O mecanismo do timer em sites e aplicativos é terrível também. Eu costumo me sentir diante de uma bomba relógio quando vejo o número do token na tela do celular rodeado por um reloginho que marca o tempo restante (tick-tock, tick-tock) para ser copiado. Se eu não digitá-lo rapidinho, sem errar a tecla, ele desaparece, dando lugar a outro número e me obrigando a começar tudo de novo. Parece que estou em uma gincana da escola. Toda vez que passo por esta situação, a primeira coisa que me vem à cabeça é: o programador de computação que desenhou o algoritmo deste sistema deve ser muito sádico. A segunda coisa: e os velhinhos? Como ficam os velhinhos diante deste token com ejaculação precoce?

E aí vem o terceiro elemento da segurança digital: o reconhecimento de digitais dos dedos ou das pulsações de suas mãos – a biometria vascular. Acompanhei meu pai em várias tentativas frustradas de sacar dinheiro no caixa eletrônico do seu banco. Em nenhuma das vezes, conseguimos acertar a posição das mãos para que a máquina o reconhecesse e desse ok para a operação. (Descobri, recentemente, que os saques das aposentadorias não exigem mais esse tipo de reconhecimento. Ufa.)

Imagino que as virtudes da tecnologia de segurança financeira venham nos protegendo de situações bem perigosas que acontecem no mundo do cibercrime. Assim como outros dispositivos e devices que nasceram com a promessa de facilitar nossas vidas, no entanto, os tokens e os mecanismos biométricos estão desconsiderando as dificuldades dos imigrantes digitais, aquelas pessoas que podem não teclar muito rápido mas que, assim como os nativos digitais, também têm direito e desejo por utilizar os recursos do seu smartphone.

Seria pedir muito para que estes dispositivos fossem mais amigáveis? Customer experience (a experiência do consumidor com determinado produto ou serviço) não é só uma disciplina do marketing. Tem de ser levada a sério também pela área de programação e de segurança digital.

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Sobre a autora

Brenda Fucuta é jornalista, escritora e consultora de conteúdo. Autora do livro “Hipnotizados: o que os nossos filhos fazem na internet e o que a internet faz com eles”, escreve sobre novas famílias, envelhecimento, identidade de gênero e direitos humanos. Além de entrevistar pessoas incríveis.

Sobre o blog

Reflexões de uma jornalista otimista sobre nossa vida em comum

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