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Cabelos brancos em mulheres jovens: vale a pena ser chamada de senhora?

Brenda Fucuta

07/07/2019 04h56

Foto: Jens Lindner/Unsplash

 

Para algumas mulheres, assumir os cabelos brancos significa liberdade – liberdade da tinta, do custo e das horas no salão do cabeleireiro. Para outras, tem a ver com outro tipo de libertação, o de um modelo de beleza que, até bem pouco tempo, não suportava os traços deixados pela idade. Há ainda um grupo de mulheres para o qual cabelos brancos são apenas uma opção estética, ao lado dos cabelos azuis, rosas e verdes. Nesse grupo estão aquelas que, independentemente da idade, gostam do efeito platinado em suas cabeças. Acham bonito, moderno ou divertido.

Cabelos brancos em mulheres com menos de 40 anos ficam cool. E nas mulheres com mais de 50? Qual o impacto de exibi-los  na idade em que já os temos? Existe um preço a pagar?

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Uma historinha: o tingimento de cabelos é uma prática antiquíssima entre humanos. Temos usado frutas, ervas, madeira, insetos – qualquer coisa que possa ser esmagada, virar pó e transferir seu pigmento – desde o começo dos tempos, em todo tipo de cultura e época.

Mas foi só depois que um químico francês chamado Eugène Schueller, cinco anos depois de formado, criou uma eficiente fórmula de compostos químicos em seu laboratório, que a tintura chegou de vez aos salões. A fórmula foi marketeada, aprimorada para atender melhor o consumidor, barateada para concorrer no disputado mercado de beleza e se transformou em uma marca que conhecemos muito, a L'Oréal, fundada em 1909.

O hábito de usar tinturas químicas se espalhou de tal forma pelos centros urbanos que, durante a segunda metade do século XX, mostrar as raízes brancas era sinônimo de descuido, quase falta de higiene. Hoje, podemos pensar diferente, mas houve uma época em que a tintura era uma ferramenta de poder feminino. Ter acesso à coloração significou, por muito tempo, fugir dos massacrantes estereótipos da idade.

Com os cabelos tingidos, as mulheres do século 20 puderam prolongar sua juventude enquanto, em uma geração antes, a das suas mães, as mulheres ficavam velhas aos 30 anos. Curioso como as coisas se invertem.

Não se trata apenas de aparência, mas de algo mais complexo, que envolve a ideia que formamos sobre o valor da juventude – uma condição que incensamos, adoramos como a um deus, desejamos mais do que qualquer outra coisa. Ser jovem, passamos a acreditar, é ser mais capaz, mais inteligente, mais atraente, mais produtivo. Numa sociedade como essa que criamos, parecer velho não faz bem a ninguém.

Em 2014, conheci uma mulher interessante, uma pensadora original, bonita – e com mais de 50 anos. Ela me disse que passou a omitir sua idade a partir de determinado momento da vida. Queria, segundo ela, experimentar ser "ageless", testar como as pessoas reagiriam à falta de referência (pelo menos declarada) de sua idade cronológica. Um experimento simbólico, resultado da importância que damos à juventude e a repugnância que criamos ao envelhecimento. 

Por coincidência, foi mais ou menos nessa época que desisti do cabelo preto. Para muita gente, inclusive minha mãe (ela ficou indignada com minha decisão), envelheci 10 anos em 1. Aos 53, 54 anos, passei a ganhar gentilezas que, em vez de me deixarem feliz, maltratavam meu ego: lugar nas filas e nos assento dos ônibus reservados aos idosos, com mais de 60. Muitos passaram a me chamar de senhora, especialmente os que tinham a minha idade (essa foi a pior parte, não ser identificada mais como "igual").

Para falar a verdade, não posso creditar apenas à cor da minha cabeça a mudança precoce de tratamento – eu venho envelhecendo de corpo e alma. Por outro lado, nunca me senti tão em paz com meu cabelo e minha aparência.

Gosto do cabelo branco. E gosto de viver nesta época, em que muitas outras mulheres, por diversos motivos, também gostam dele. É só uma pequena subversão. Mas é daquela que fazemos por gosto, não por opressão ou necessidade. Benção, Iris Apfel, os cabelos brancos mais chiques desde sempre.

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Sobre a autora

Brenda Fucuta é jornalista, escritora e consultora de conteúdo. Autora do livro “Hipnotizados: o que os nossos filhos fazem na internet e o que a internet faz com eles”, escreve sobre novas famílias, envelhecimento, identidade de gênero e direitos humanos. Além de entrevistar pessoas incríveis.

Sobre o blog

Reflexões de uma jornalista otimista sobre nossa vida em comum

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