Sem visitas nas clínicas de repouso, idosos se comunicam por redes sociais
Grupo de alto risco frente à Covid-19, muitos idosos que moram em clínicas de repouso estão vivendo uma espécie de quarentena compulsória desde o começo da semana. Seis clínicas paulistanas, com as quais entrei em contato na terça e quarta-feira, decidiram proibir visitas, inclusive a de parentes próximos, a fim de impedir a entrada do vírus em suas instalações. "Estamos fazendo o máximo que podemos para que o vírus não chegue até os moradores", diz Michel Lacerda, do RH do Villagio em Família, residencial com duas unidades em São Paulo, uma no Pacaembu e outra em Perdizes, e cujas mensalidades vão de R$ 7 a R$ 15 mil por pessoa. "Seria um desastre se houvesse contaminação, porque a nossa população é vulnerável e costuma estar debilitada." Pessoas com mais de 80 anos de idade infectadas pelo coronavírus apresentam uma taxa de mortalidade de 15%, enquanto a média para o restante da população é de menos de 4%.
Entre as ações preventivas tomadas no começo da semana estão também a proibição das saídas ocasionais e a limitação da circulação de funcionários. No Villagio, por exemplo, atividades de lazer, como pintura e sessões de vídeo, a partir de agora serão promovidas apenas por uma profissional de Terapia Ocupacional por unidade. A medida visa diminuir o número de pessoas que têm contato com os moradores.
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No Residencial Brilho do Sol, no Alto da Lapa, os 40 residentes também tiveram sua rotina alterada. Além de não poderem mais receber a visita dos familiares, eles perderam a liberdade de fazer compras no mercadinho que fica em frente à casa do residencial. "Acho que essa foi a pior restrição para eles", conta Marcio Mendes, diretor do estabelecimento.
Em 2011, segundo estimativa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), cerca de 100 mil idosos moravam em abrigos públicos e privados. Com 19 moradores, o 3i Bem-estar Residencial Sênior, no Morumbi, redobrou seus cuidados com a assepsia desde que foi declarada a situação de pandemia. Seus funcionários, agora, entram por um corredor lateral e a troca de roupas na instituição, que antes era uma recomendação, agora é obrigatória. Lixeiras são esvaziadas com mais frequência, a lavagem de mãos é feita com maior rigor e a temperatura corporal – dos funcionários e dos visitantes – é medida na recepção por um termômetro que não precisa encostar na pele.
Além disso, os profissionais de apoio, sempre que possível, ficam a mais de 1 metro de distância dos idosos. O reforço nesse tipo de cuidado foi orientado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo. "Recebemos um email do MP com várias recomendações na semana passada", conta Sandra Regina Klain, gestora da 3i Bem-estar. No domingo, quando a situação ficou ainda mais grave, Sandra emitiu um comunicado aos familiares dos residentes pedindo que não houvesse mais visitas. "Já tínhamos cancelado passeios, mas precisamos tomar essa decisão para proteger os moradores."
E como os idosos receberam a notícia do isolamento compulsório? Os que estão lúcidos, segundo os administradores das instituições entrevistadas, a receberam com serenidade porque acompanham a evolução da pandemia pela TV. Uma grande parte, no entanto, sofre de demências variadas e não entende o que está acontecendo. No Residencial Sênior, as atividades de TO foram mantidas com esse propósito. "Já é difícil explicar por que os funcionários estão com máscara, imagina então se a gente modifica a rotina de atividades, como eles ficam?"
A maior parte dos familiares também entendeu a restrição das visitas como necessária. "Alguns não quiseram aceitar, mas acabaram se convencendo. Não há outra coisa a fazer", diz Marcio Mendes. Para compensar a falta das visitas, as instituições têm utilizado as redes sociais e os aplicativos de mensagem para que os familiares tenham notícia dos idosos ou façam contato com eles.
Por meio de conversas em vídeo, de fotos no WhatsApp e até de Facebook, os familiares monitoram seus idosos e dão notícias. São recursos utilizados para minimizar o isolamento social. "Por áudio e vídeo, mando beijinho, falo com minha mãe", conta Célia Delazari. "As cuidadoras sempre mandam fotos dela em alguma atividade também." A mãe de Célia, com 87 anos, mora em uma casa de longa permanência na cidade de São José dos Campos. "Temos que cuidar também da saúde mental deles. Ajudá-los a atravessar esse período sem grandes turbulências", explica Sandra Klain.
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