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Brenda Fucuta

Por que velhos e adolescentes defendem mais as ideias feministas?

Brenda Fucuta

15/04/2019 14h33

Foto: Thiago Thadeu/Unsplash

Jovens adolescentes e idosos são mais feministas do que o restante da população. Esse foi o dado que considerei mais impressionante na pesquisa DataFolha sobre o feminismo e a sociedade brasileira. Na faixa de 60 anos + e na faixa de 16 a 24 anos, mora o maior número de pessoas que se considera feminista: 42% entre os idosos e 47% entre a mais jovem faixa pesquisada.

O DataFolha, segundo a repórter Ana Estela de Sousa Pinto, em reportagem publicada na Folha de S. Paulo, entrevistou 2096 brasileiros – tanto homens quanto mulheres – com 16 anos ou mais. As entrevistas foram feitas no começo de abril e trazem vários cruzamentos, inclusive entre os mais ricos e pobres, entre brancos e negros, entre os que votaram em Jair Bolsonaro e Fernando Haddad para a presidência nas últimas eleições.

De modo geral, o levantamento traz uma notícia boa. Embora, também na categoria das causas feministas, a sociedade se divida, há uma boa parcela, tanto de homens quanto de mulheres, que considera o feminismo benéfico às mulheres e à sociedade (49% dos homens e 45% das mulheres acham que o feminismo traz mais benefícios do que prejuízos). Ou seja: estamos caminhando no entendimento de que desigualdades não são positivas, não estamos?

Faz sentido que as gerações que estejam no extremo do leque demográfico – a geração baby-boomer (com mais de 60 anos) e a geração centennial (com menos de 21 anos, hoje ainda na adolescência) – se revelem mais feministas. Não é a primeira vez que elas concordam em questões de direitos humanos. Centennials são mais abertos à diversidade do que as gerações Y (que nasceram a partir dos anos 80 e hoje estão com mais de 30 anos) e X (os que nasceram no meio dos anos 60 e hoje têm entre 40 e 50 anos). Em 2016, a agência de publicidade McCann divulgou uma pesquisa, A Verdade sobre os Jovens. Nela, a preocupação com igualdade racial, feminismo e direitos LGBT era bem maior entre os menores de 20 anos do que entre os maiores.

Por outro lado, os avós, os baby bommers, são os caras que participaram da revolução sexual, da primavera hippie, da liberação de costumes. Não deveria surpreender que eles, também conhecidos como perennials ou ageless, fossem simpatizantes do feminismo. Entre os jovens centennials e seus avós boomers, ficaram os "caretas", os adultos X e Y.

Antes que algum Y se manifeste contra este texto, quero explicar que obviamente são muitos os adultos jovens que  adotam o ideário feminista. Também para a geração X admito ressalvas neste texto: as primeiras presidentes de empresa, as primeiras mulheres em conselhos corporativos, têm entre 50 e 60 anos de idade, são X e boomers. E o pioneirismo delas faz muito diferença na adoção de uma visão mais igualitária de gênero dentro das empresas.

No entanto, como tudo que tem a ver com uma abordagem geracional, temos que considerar a existência de um certa força social que define seu tempo. Muitas vezes, esta força não é restrita a uma geração ou não envolve a maior parte das pessoas. Mas ela costuma sobreviver e crescer no futuro.

Os adultos X e Y ficaram ensanduichados em um momento de extremo individualismo e de consumo voraz da nossa sociedade. Nestas gerações, as mulheres foram em massa para o mercado de trabalho. Ganharam poder de compra e independência a um custo enorme. Elas trabalharam mais do que os homens e, talvez, não tivessem tido tempo de pensar em questões feministas. As mulheres um pouco mais jovens, as Y, começaram a desconfiar da sustentabilidade do modelo multitarefa, mas continuaram a jornada de alta produtividade nas empresas – afinal, elas tinham estudado para isso e demonstravam mais escolaridade do que seus pares masculinos. (As mulheres Y formaram a primeira geração a conquistar mais graduação do que homens no país.)

Adolescentes, no entanto, puderam pensar bastante sobre as causas feministas. O novo feminismo foi abraçado pelos coletivos de secundaristas e se transformou em uma ideia pop pela indústria de entretenimento – cinema e música, principalmente.

Talvez cada geração tenha um papel a cumprir. Eu, que sou mais X do que boomer, me contento com meu papel de uma espectadora entusiasmada desta linda peça que avós e netas estão desenvolvendo no palco. Se as mudanças resultarem de um encontro entre a sabedoria e a rebeldia tenho certeza de que serão mudanças incríveis. Mesmo que a rebeldia, neste caso, tenha vindo mais dos avós do que dos seus netos.

Longa vida à equidade de gêneros e à boa convivência entre gerações.

Sobre a autora

Brenda Fucuta é jornalista, escritora e consultora de conteúdo. Autora do livro “Hipnotizados: o que os nossos filhos fazem na internet e o que a internet faz com eles”, escreve sobre novas famílias, envelhecimento, identidade de gênero e direitos humanos. Além de entrevistar pessoas incríveis.

Sobre o blog

Reflexões de uma jornalista otimista sobre nossa vida em comum

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