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Brenda Fucuta

A tecnologia do bem promete: você pode criar novos hábitos

Brenda Fucuta

25/08/2019 04h00

Foto Samuel Zeller/Unsplash

Talvez você não saiba, mas por trás daquela vontade irresistível de conferir o WhatsApp, o Instagram, o Twitter, o Facebook ou o Tinder –por que não?–, existe uma "sala de guerra", onde estrategistas das grandes empresas tech inventam maneiras de aumentar o engajamento do usuário. Eles são especialistas em design de comportamento ou design persuasivo.

Esses estrategistas são psicólogos e neurocientistas que estudaram o comportamento humano e ganham a vida aplicando os conhecimentos na criação de novos hábitos –checar um post, compartilhar uma foto, enviar uma mensagem. Há menos de duas décadas —o Facebook tem apenas 15 anos–, não tínhamos esses hábitos, lembra?

Nós, que estamos do lado de cá, imaginamos que são apenas os nossos impulsos, a nossa curiosidade, que nos movem em direção ao aplicativo, ao clique. Mas nada disso é acidental. Sendo a plataforma de comunicação e interação mais popular da história da humanidade, a web movimenta muito dinheiro. E o que movimenta muito dinheiro é negócio de gente grande. Por isso, atrás da sua tela, seja do celular, do tablet ou do computador, existem interessados em estudar seus hábitos.

Parece um cenário meio sinistro, mas, ei, existe uma boa notícia nisso tudo: é possível criar hábitos, desde que haja motivação para isso. No livro "O Poder do Hábito" (spoiler), o escritor Charles Duhigg nos informa que o hábito de escovar os dentes com creme dental não nasceu com o ser humano. Ele foi criado, no começo do século 20, por um cara muito esperto que adicionou à pasta de dente um ingrediente refrescante que dava a sensação de limpeza. O hábito de escovar os dentes com creme, portanto, foi motivado pela sensação de limpeza. Tecnicamente, uma coisa não tem a ver com a outra, os dentes não ficavam mais limpos com a pasta dental.

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O que faz com que a gente acredite e repita uma ação tem a ver com o sistema de recompensa, um mecanismo neurológico que nos incentiva a repetir aquilo que nos satisfaz.

É verdade que hábitos não são fáceis de mudar. Se fossem, as segundas-feiras não significariam nada para quem quer fazer dieta, os fumantes deixariam de pagar para encurtar a vida, os brasileiros não tomariam banho todo dia nem se cumprimentariam com um beijo no rosto. Mas o que os estudiosos do design de comportamento têm mostrado é que a tecnologia pode ser uma aceleradora da mudança. Não só para o mal, para "viciar" pessoas na repetição passiva. Mas também para o bem.

Exemplo: um aplicativo, chamado Brighten, que estimula as pessoas a mandar elogios anônimos para conhecidos. Ou o Movn, que incentiva pacientes a andar mais depois de cirurgias. Ou ainda um aplicativo para ajudar dependentes de aplicativos. "Isso é meio irônico, mas o aplicativo que criamos ajuda a quebrar o hábito que leva a um comportamento compulsivo [de dependência dos aplicativos]", disse o especialista em design de comportamento Dalton Combs à revista britânica Feed. Com o sócio Ramsay Brown, Dalton criou uma start-up chamada Boundless Mind. A missão da empresa, segundo Dalton, é "empoderar" as pessoas para a mudança de hábitos. "Estamos usando a tecnologia, que até agora era apenas usada por grandes empresas para viciar pessoas em mídias sociais, e liberando esses métodos para tornar possível a mudança em pessoas comuns."

 

Sobre a autora

Brenda Fucuta é jornalista, escritora e consultora de conteúdo. Autora do livro “Hipnotizados: o que os nossos filhos fazem na internet e o que a internet faz com eles”, escreve sobre novas famílias, envelhecimento, identidade de gênero e direitos humanos. Além de entrevistar pessoas incríveis.

Sobre o blog

Reflexões de uma jornalista otimista sobre nossa vida em comum

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