Será que nós estamos preparados para a chegada dos pós-60?
No Brasil, existem 4 milhões de pessoas com mais de 80 anos de idade. É uma população enorme, só menor que a do Rio de Janeiro e a de São Paulo – e maior do que a de Salvador e de Brasília. Um monte de gente, com características e necessidades especiais. Os historiadores os conhecem como Geração Silenciosa, nascidos antes antes e no meio da II Guerra. Vou chamá-los de pós-60.
Daqui a duas décadas, esta população quase triplicará e chegará a 11 milhões de brasileiros. Estamos preparados para eles?
Claro que não. Nossas cidades privilegiam os carros, jamais os pedestres e os cadeirantes. Nossas ruas são para articulações jovens, que pulam buracos, sobem e descem degraus, driblam postes, árvores, murinhos, vasos, lixo e rampas de garagem. (Nem vou falar de saúde pública aqui, assunto que merece uma reflexão à parte.)
Podemos até imaginar, de forma muita otimista, que em 2040 teremos conseguido adaptar ruas e cidades para recebê-los. Mas como ajustar o maior desafio, a mudança de nossa noção de tempo?
Desde a revolução industrial, os seres humanos vêm aumentando a velocidade com que fazem as coisas. Nosso modo de vida, neste último século, ganhou um ritmo tão vibrante que os cérebros podem ter chegado ao seu limite. Estão sobrecarregados, estressados, como diz o historiador Yuval Noah Harari, e há dúvidas sobre nossa capacidade de suportar a voraz demanda de mais e mais produtividade. Estamos viciados na pressa, perdemos o controle diante da demora.
E a primeira constatação de alguém que convive com um pós-60 é: a vida passa em câmera lenta; corpo e cérebro perdem a pressa. A segunda constatação: para acompanhar um pós-60, você precisa atualizar seu velocímetro. É a coisa mais fácil do mundo perder a paciência – estamos programados para isso. Valorizamos o raciocínio rápido, o líder dinâmico, o profissional multitarefas. Premiamos quem chega primeiro.
Quem me conhece e lê este texto, deve estar se divertindo, porque eu sou – ou fui – obcecada por produtividade. Sou apressada por natureza. Só não me transformei em uma filha monstruosa, impaciente com os pais, porque tive a chance de desacelerar nos últimos anos.
Lançando mão de um trocadilho: sei que nem todos terão tempo para desacelerar. Mas não vejo outra saída, senão repensar nosso ritmo, num esforço individual e coletivo para aceitar e acolher os 11 milhões de pós-60. Para sincronizar com o futuro, diferentemente do que estamos acostumados a pensar, é possível que tenhamos de ficar mais lentos.
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