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Brenda Fucuta

Quem é o pai que sonhamos para os nossos filhos

Universa

12/08/2018 04h00

São nossos filhos que tem que avaliá-los (Foto: iStock)

Calcula-se que existam 20 milhões de mães solteiras no Brasil, conforme estimativa do Intituto Data Popular de 2015. Inclui mães que quiseram ter seus filhos sem parceria. É uma impossibilidade biológica, mas não social. São mães que mantém a gravidez e não avisam os pais; mães que engravidam com o sêmen anônimo.

Mas acredito que a maioria – a grande maioria das mais de 60 milhões de mães brasileiras– desejou um pai para seus filhos. Alguém que pudesse nutrir, cuidar, educar e, principalmente, amá-los. Com ela e como ela.

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Imagino  que não seja um desejo calculado, planejado milimetricamente. Pelo menos no que é racional – e no que é um comportamento médio – a gente costuma eleger como pai o homem que se ama. O filho, então, parece ser mais um projeto dos dois, uma celebração do amor, uma continuação natural da ideia da parceria para a vida, a soma milagrosa de dois DNAs apaixonados.

A partir daí, começamos a idealizar este homem. Alguém que encararia a criação dos filhos como um privilégio, uma missão desafiadora mas gratificante. Pagaria contas conosco, dividiria tarefas dentro e fora de casa – escola, médico, festas de coleguinhas –, chegaria mais cedo do trabalho para que a gente ficasse até mais tarde no escritório, acompanharia o filho na lição, daria a bronca que a gente não queria dar, debateria questões relacionadas à educação de forma engajada e sensata. Seria um modelo de bom ser humano para o filho. E, principalmente, expressaria, nas atitudes diárias, a certeza de que ele estaria por perto sempre que a família precisasse.

Esqueci alguma coisa?

Aí vem a realidade. Xixi e cocô na fralda, choro à noite, birra, machucados no parquinho, lições de casa, decepção com o primeiro amor, rebeldia. Exaustão. Responsabilidade. Preocupação.

Nem todos os pais resistem a este teste de pressão. (Na verdade, nem todas as mães também, mas essa é outra história.)

Às vezes, temos a sorte de encontrar homens que superam o ideal de pai que criamos. Em geral são aqueles que, embora amem e cuidem dos filhos, não se submetem ao projeto tirano que criamos para eles – do pai ideal – e inventam sua própria história de amor paternal.

Às vezes, temos azar. Quantas mulheres não se sentiram culpadas, em algum momento, por terem escolhido "mal"o pai dos seus filhos, como se fosse possível ter estes mesmos filhos com outro homem?

Em ambos os casos, por sorte, não temos ingerência entre a relação que os filhos criarão com seus pais. (E tenho certeza de que a maioria de nós tentou modelar as atitudes do parceiro em algum momento.) Chegaremos à conclusão de que, quase perfeitos ou muito imperfeitos, os homens que escolhemos são apenas os pais possíveis. Se precisarem ser avaliados como pais, o serão pelos seus próprios filhos. Não por nós.

Feliz Dia dos Pais para eles.

Sobre a autora

Brenda Fucuta é jornalista, escritora e consultora de conteúdo. Autora do livro “Hipnotizados: o que os nossos filhos fazem na internet e o que a internet faz com eles”, escreve sobre novas famílias, envelhecimento, identidade de gênero e direitos humanos. Além de entrevistar pessoas incríveis.

Sobre o blog

Reflexões de uma jornalista otimista sobre nossa vida em comum

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