As babás agora falam espanhol mas continuam usando uniforme branco
Eu estava acompanhando minha amiga à aula de natação da netinha. Sentamos, minha amiga e eu, lado a lado, em um banco de madeira perto da recepção. À nossa frente, dentro de um aquário de vidros panorâmicos, um espetáculo de alegria que só as crianças e as piscinas, juntas, conseguem produzir. Meninas e meninos de 4, 5 anos de idade aprendendo a nadar, a mergulhar e a pular na água. Uma delícia.
Você pode medir o PIB de um bairro pelo número de uniformes brancos que vê nas ruas, nas filas das escolas e nas pracinhas. Esta academia tinha dezenas de mulheres de branco à espera de seus pequenos clientes. Uma delas brincava com uma garotinha, fazendo hora para a chegada do Uber. Estavam de frente uma para a outra e a menina ensinava a babá a espalmar as mãos e cantar uma variante de uni duni dê. Com sotaque espanhol, a babá se esforçava para acompanhá-la.
Tem coisas que custam a mudar. Me lembrei da eficiente e adorável babá que levava meu filho caçula às aulas de natação. Nunca vestiu branco. Mas suas colegas vestiam.
Acho o branco odioso, porque reflete uma não-mudança da nossa sociedade no que ela tem de pior: a separação da casa grande e da senzala. O uniforme branco é um símbolo indecoroso de uma sociedade da ostentação, que aspira viver de privilégios, que valoriza a divisão entre quem pode e quem não pode.
Por que as babás usam branco? Estão na categoria dos enfermeiros, médicos e operários de indústrias alimentícias, profissionais que necessitam de roupas e ambientes assépticos para trabalhar bem? Não. Quem cuida de crianças, no dia a dia, não precisa usar branco. Crianças não vivem e não devem viver em ambientes imaculados. Elas precisam criar anticorpos. Justificar o branco dos uniformes das babás por causa da higiene é uma posição equivocada, para dizer o mínimo.
Babás usam branco para que se destaquem, para que não se misturem. Elas estão em nossas famílias mas são nossas empregadas. Com o uniforme branco, ensinamos nossos filhos a criar distância de adultos que eles – não houvesse a grande fronteira branca – provavelmente amariam mais do que a seus tios, primos ou avós.
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