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Brenda Fucuta

Geração binge, adolescentes que bebem muito

Brenda Fucuta

09/09/2017 12h59

Foto de David Pennington/Unsplash

Os adolescentes estão bebendo menos. Esta é a conclusão de uma investigação feita pela psicóloga americana Jean Twenge, professora de psicologia da Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos e divulgada recentemente. Jean analisou pesquisas que, no total, somaram entrevistas com 11 milhões de jovens. No Brasil, a mesma coisa parece acontecer. Entre 2006 e 2012, aumentou em 8% o número de jovens de 14 a 17 anos que não bebem. Dados de pesquisa indicam também que houve uma redução de 22% no número de usuários jovens de álcool entre 2004 e 2010.[1]

Seria um excelente motivo para um brinde, mas a notícia não é tão boa assim. Entre os adolescentes que estão bebendo, o consumo tem aumentado.

Um litrão de caipirinha no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, extremamente popular entre jovens, custava R$ 12 no fim do ano passado. Para os especialistas no assunto, se o litrão fosse consumido por uma garota de 15 anos, por exemplo, isso significaria que ela estaria bebendo em binge ou fazendo uso abusivo do álcool.  Não é errado supor que muitos dos litrões vendidos para adolescentes sirvam para consumo individual, já que quase metade dos jovens que bebem, bebem em binge, o que equivale à ingestão, num período de duas horas, de quatro doses de álcool para mulheres e cinco para homens. Como referência, um a cada três adultos fazem uso abusivo do álcool.[2].

No ano passado, entrevistei centenas de adolescentes para o projeto de um livro sobre a geração Z ou centennials, os nascidos do final dos anos 90 para cá. (Jean Twenge os chama de geração smartphone). O binge seguido de apagão ou PT – perda total, gíria para o desmaio alcoólico – apareceu em quase todas as conversas. Meninos e meninas bebiam porque queriam se divertir, relaxar, pertencer ao grupo. Bebiam também porque se sentiam pressionados, especialmente no ensino médio, quando se preparavam para o Enem. Bebiam porque gostavam de festas – e nenhuma festa era considerada relevante se não houvesse muito álcool. Uma garota de 16 anos, de Goiânia, me disse que o álcool flexibiliza o padrão de beleza e permite que ela fique com garotos que, sóbria, não teria nem considerado. E isso é divertido. Além disso, contou que o PT é obrigatório numa festa realmente boa. "A segunda melhor coisa de uma festa são os comentários no dia seguinte no WhatsApp. E o PT é um assunto tão bom quanto os barracos de ex ciumentos ou uma ficada que a gente não esperava."

No começo deste ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria publicou um manual de orientação para pais e profissionais sobre o uso do álcool entre adolescentes. Segundo o guia, os jovens bebem entre amigos, mas também entre familiares. Em estudo do Ibope Inteligência, informa-se que 23% dos adolescentes pesquisados bebem em eventos familiares e 22% bebem com a família. O hábito de beber em casa é visto por muitos pais como algo inofensivo, diz o estudo. Eles oferecem bebida para abrir diálogo, conquistar simpatia ou deixam que os filhos bebam porque acham que a experimentação será inevitável – sendo assim, melhor que eles a façam dentro de casa.

Somos permissivos com o uso de álcool porque o associamos à alegria e celebração. Mas esquecemos ou não sabemos que o consumo prolongado na adolescência prejudica o desenvolvimento cerebral e está relacionado a comportamentos de risco, que envolvem sexo sem proteção (gravidez, DSTs) e mortes de jovens em acidentes de trânsito. Segundo a Organização Panamericana de Saúde, o Brasil foi o país das Américas que teve o maior índice de mortes de adolescentes de 15 a 19 anos associadas ao consumo de álcool.

[1] Lenad, levantamento Nacional de Álcool e Drogas, e Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública e Privada de Ensino nas 27 Capitais Brasileiras, feito com 50 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio. Ambos os estudos foram reralizados pela Universidade Federal de São Paulo.
[2] Dado de estudo da Vigitel de 2016. Em 2015, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou relatório afirmando que o binge drinking estava aumentando de forma preocupante entre jovens ocidentais.

Sobre a autora

Brenda Fucuta é jornalista, escritora e consultora de conteúdo. Autora do livro “Hipnotizados: o que os nossos filhos fazem na internet e o que a internet faz com eles”, escreve sobre novas famílias, envelhecimento, identidade de gênero e direitos humanos. Além de entrevistar pessoas incríveis.

Sobre o blog

Reflexões de uma jornalista otimista sobre nossa vida em comum

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